Crescimento do crédito privado no Brasil: o que esperar para 2026 e como orientar o cliente

Crédito privado

O mercado de crédito privado brasileiro atravessa uma fase de expansão que deve se intensificar em 2026. O aumento das emissões, a entrada de novos emissores, a sofisticação dos instrumentos e o maior apetite por risco do investidor institucional e de alta renda transformam o setor em uma peça central no planejamento de alocação de patrimônio.

Para o assessor de investimentos, este é um momento estratégico: entender o ritmo dessa expansão, os riscos que vêm junto e como orientar o cliente para capturar oportunidades sem comprometer liquidez, diversificação ou perfil de risco.

Por que o crédito privado está crescendo?

Três fatores explicam a aceleração recente:

1. Taxa de juros real ainda elevada

Mesmo com tendência de queda nominal em alguns momentos do ciclo, o juro real brasileiro permanece entre os mais altos do mundo. Isso:

  • aumenta o custo de financiamento bancário;
  • torna o mercado de capitais mais atrativo para empresas;
  • melhora o retorno dos investidores em fundos de crédito.
2. Reabertura gradual do mercado de capitais

Após dois anos de restrição pós-volatilidade, as janelas de emissões voltaram a abrir. Empresas de grande e médio porte retomaram captações via debêntures, CRIs, CRAs e notas comerciais.

3. Entrada de emissores menores

A combinação de juros altos bancários + busca por capital acessível levou empresas médias a migrarem para o mercado de capitais. Isso aumenta a diversidade, mas também a complexidade de análise.

O que esperar para 2026

Com juros reais persistentes, balanços corporativos mais ajustados e demanda por financiamento crescente, 2026 tende a ser um ano de consolidação do crédito privado. As tendências incluem:

Aumento do volume emitido

A projeção de casas de análise e bancos de investimento indica crescimento entre 15% e 25% em novas emissões.

Maior participação de setores não tradicionais

Além dos setores clássicos (energia, saneamento, infraestrutura), vemos maior entrada de:

  • varejo;
  • educação;
  • agronegócio diversificado;
  • tecnologia e serviços digitais.
Emissões estruturadas mais sofisticadas

Adoção maior de:

  • garantias híbridas,
  • covenants mais robustos,
  • mecanismos de subordinação,
  • títulos verdes e sustainability-linked.

Mudança do perfil dos emissores: risco e oportunidade

A chegada de emissores médios transforma o mercado. Em 2026, espera-se:

Mais empresas sem histórico em mercado de capitais

Isso exige:

  • análise profunda de balanço,
  • avaliação de governança,
  • entendimento do setor,
  • leitura detalhada do instrumento de dívida.
Necessidade maior de diligência

Nem todo instrumento compensa o prêmio oferecido. O assessor precisa explicar ao cliente que:

“Maior retorno não vem sem maior risco, e a qualidade do emissor sempre deve ser priorizada.”

Maior relevância dos ratings

As agências tendem a ampliar a cobertura para acompanhar o crescimento do setor. Ratings deixam de ser “acessórios” e tornam-se ferramenta essencial.

Impacto do juro real nas decisões de alocação

Mesmo que a Selic caia marginalmente, o juro real continua elevado. Isso implica:

  • Fundos com estratégia High Grade seguem atrativos.
  • Estratégias High Yield ganham fluxo, mas com maior risco de inadimplência.
  • Estruturas isentas (CRIs, CRAs) mantêm demanda alta entre investidores qualificados.

O juro real alto aumenta o retorno de crédito, mas também aumenta a pressão sobre empresas endividadas. O assessor deve monitorar:

  • alavancagem;
  • liquidez corrente;
  • calendário de vencimentos;
  • setor e ciclo econômico.

Risco de crédito em 2026: o que deve ser observado

A expansão do crédito privado não ocorre sem risco. Entre os principais pontos de atenção:

1. Aumento de inadimplência corporativa

Ciclos de juros altos podem pressionar as empresas mais alavancadas. Setores mais sensíveis incluem:

  • varejo;
  • construção civil;
  • companhias de tecnologia de capital intensivo;
  • educação privada altamente financiada.
2. Concentração em emissores médios

Maior retorno, mas maior risco estrutural.

3. Eventos de mercado (“credit events”)

Em 2024 e 2025, casos isolados mostraram que eventos de crédito podem gerar “stress” momentâneo em fundos. Em 2026, isso deve continuar.

4. Risco setorial

O assessor deve monitorar também:

  • risco climático em empresas agro;
  • risco regulatório em saúde;
  • risco de demanda em varejo;
  • risco de solvência em tecnologia emergente.

Como escolher fundos de crédito privado

Os fundos devem ser avaliados em três dimensões:

1. Política de investimento e objetivos

Fundos High Grade, por exemplo, buscam:

  • emissões de grandes empresas;
  • rating elevado;
  • menor volatilidade.

Fundos High Yield:

  • emissores médios;
  • taxas mais altas;
  • volatilidade maior.

Fundos estruturados:

  • lastro imobiliário, agrícola ou híbrido;
  • análise mais complexa.

O assessor deve explicar ao cliente:

“A escolha do fundo depende do seu apetite a risco e da capacidade de suportar oscilações.”


2. Estrutura de carteira e diversificação

A diversificação adequada é essencial:

  • número de emissores;
  • proporção de setores;
  • presença de garantias;
  • distribuição geográfica;
  • exposição a emissores sem rating.

Fundos muito concentrados tendem a oscilar mais em eventos de crédito.


3. Gestão, histórico e governança

Avaliar:

  • quem é o gestor;
  • processos de análise;
  • histórico de eventos de crédito;
  • como o fundo se comportou em crises;
  • grau de transparência nos relatórios.

O cliente deve entender que a escolha do gestor é tão importante quanto a escolha do ativo.

Estratégias para orientar o cliente em 2026

O assessor deve atuar como filtro e tradutor desse novo ambiente. Aqui estão práticas essenciais:


Atualizar o discurso sobre risco x retorno

O cliente precisa entender que:

  • crédito privado não é renda fixa tradicional;
  • risco de crédito existe;
  • retorno maior vem com análise mais profunda.

A comunicação deve ser clara e sem viés comercial.


Construir carteiras com camadas de proteção

Estratégias recomendadas:

  • combinar High Grade + High Yield;
  • limitar exposição a emissores sem rating;
  • diversificar entre fundos abertos e estruturados;
  • usar crédito privado isento para otimização fiscal.

Educar sobre volatilidade

É comum o cliente estranhar oscilações em fundos de crédito. O assessor precisa reforçar que:

  • o “marcação a mercado” é parte natural;
  • não significa perda permanente;
  • resgates em momentos de estresse podem cristalizar prejuízos.

Revisar carteira trimestralmente

O ambiente de crédito muda rápido. Revisões devem incluir:

  • novo rating;
  • mudanças setoriais;
  • performance do gestor;
  • solvência do emissor;
  • calendário de amortizações.

Relacionar crédito a macro e fiscal

O mercado de crédito é sensível ao risco fiscal.

Se o risco fiscal aumenta:

  • a curva de juros abre;
  • debêntures perdem preço;
  • fundos sofrem marcação a mercado.

O assessor deve contextualizar esses movimentos ao cliente.


Crédito privado

O crédito privado seguirá como uma das classes de ativos mais relevantes de 2026 — tanto pelo retorno potencial quanto pela necessidade crescente das empresas de se financiarem via mercado de capitais.

Para o assessor de investimentos, este é o momento de:

  • fortalecer análise setorial;
  • dominar estrutura de emissões;
  • compreender profundamente risco de crédito;
  • calibrar expectativas do cliente;
  • comunicar com clareza cada movimento.

O assessor que souber navegar essa expansão — sem perder o rigor técnico — se destacará na entrega de valor consultivo, ajudando clientes a construir carteiras mais robustas, diversificadas e alinhadas com os desafios e oportunidades de 2026.

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