A Reforma Tributária voltou à mesa com mais força no final de 2025 — e, diferentemente das discussões anteriores focadas apenas no consumo, desta vez a agenda contempla também ajustes relevantes no sistema de investimentos, incluindo possíveis revisões no IR da renda fixa e variável, reorganização de estruturas societárias, impactos sobre holdings patrimoniais, além de mudanças na forma como fundos são tributados.
Para o assessor de investimentos, compreender essas pautas não é um exercício de futurologia: é antecipação estratégica. Mesmo sem regras definitivas, o simples avanço da discussão já altera o comportamento de investidores, fluxos de alocação e decisões de planejamento patrimonial.
Este artigo aprofunda as principais frentes de mudança em debate, analisa como elas podem afetar carteiras e sugere como o assessor deve se posicionar para orientar seus clientes de forma clara, transparente e alinhada à realidade técnica do momento.
Por que a Reforma Tributária voltou ao centro da agenda?
A agenda tributária brasileira tem passado por ciclos: momentos de adormecimento e momentos de aceleração. Em 2025, três fatores reaqueceram o debate:
- Pressão por simplificação e previsibilidade, especialmente após o avanço do IVA e da unificação de impostos sobre consumo;
- Necessidade de ampliar a arrecadação, frente a desafios fiscais que elevaram o déficit em setores estratégicos;
- Desenho de uma tributação que favoreça produtividade, competitividade e neutralidade entre setores.
Com isso, passou a haver abertura política para tratar não apenas do IVA, mas também da tributação sobre investimentos, tema que impacta diretamente todo o ecossistema assessor-investidor.
O que está em discussão no Congresso e no Ministério da Fazenda?
A pauta atual inclui quatro grandes eixos:
- Revisão de alíquotas de IR sobre investimentos
- Tributação de fundos fechados e estruturas de planejamento patrimonial
- Regras de reorganização de holdings e estruturas familiares
- Tratamento de receitas financeiras dentro do novo arcabouço fiscal
A seguir, destrinchamos cada uma delas e como podem afetar clientes — e, por consequência, o trabalho do assessor.
Tributação de renda fixa e variável: o que pode mudar
Desde 2023, o governo discute uma forma de reduzir a fragmentação da tributação sobre investimentos. Um dos pontos mais citados nos debates técnicos envolve a possibilidade de:
- Unificar as alíquotas da renda fixa,
- Rever o modelo regressivo,
- Alterar a forma de tributação sobre ganhos de capital na renda variável,
- Reduzir distorções entre produtos semelhantes.
O que isso significaria para o assessor
Mesmo sem texto final, o impacto potencial é claro:
- Produtos tradicionais de renda fixa podem perder ou ganhar atratividade, dependendo da nova tabela;
- Produtos isentos, como LCIs/LCAs, dependeriam de revisão ou manutenção da política de incentivo;
- Fundos de ações e multimercados podem ter sua tributação aproximada;
- O “timing” de compra e venda pode deixar de ser tão relevante caso a regressividade evolua para alíquotas únicas.
Esse cenário exige que o assessor esteja pronto para recalibrar estratégias, especialmente para perfis conservadores e moderados.
👉 Leia mais sobre aspectos técnicos relacionados a tributação internacional: IOF e investimentos internacionais: o que o assessor precisa saber.
Holding patrimonial em discussão: reorganização à vista
A reorganização de holdings familiares é um dos temas mais sensíveis do debate. A discussão envolve:
- Possível tributação anual de lucros acumulados (“estoque”);
- Novas regras para tributação de ganho de capital na transmissão e doação;
- Alteração das alíquotas de ITCMD estaduais;
- Regras de “distribuição presumida” para holdings passivas.
Impacto no trabalho do assessor
Ainda que não seja papel do assessor substituir advogados ou contadores, é parte da função estratégica:
- Sensibilizar o cliente sobre o tema;
- Reavaliar alocações dentro e fora da holding;
- Entender como eventuais mudanças alteram o apetite de risco;
- Mapear como eventuais tributações periódicas podem reduzir liquidez.
Além disso, o assessor pode trabalhar com o cliente a clareza de que reorganizações patrimoniais demandam antecedência, evitando decisões apressadas após a aprovação da lei.
Fundos fechados e reformas no mercado de capitais
A tributação de fundos fechados é uma pauta recorrente desde 2021. Em 2025, ela retorna ao radar por dois motivos:
- Pressão para que fundos exclusivos e previdenciários tenham marcação e tributação mais homogênea;
- Busca por maior isonomia entre fundos abertos, fundos fechados e carteiras administradas.
Debates técnicos incluem:
- Periodicidade de “come-cotas” revisitada;
- Regras de tributação na saída;
- Eventual tributação de rendimentos acumulados.
Efeitos para alocação
O assessor deve se preparar para:
- Revisar alocações de alta renda que utilizam fundos exclusivos;
- Reavaliar fundos imobiliários que possam ser impactados;
- Monitorar se haverá redução de incentivos para produtos estruturados;
- Ajustar estratégias de sucessão patrimonial via fundos.
Esse tema é particularmente importante para clientes com patrimônio acima de R$ 3 milhões, que utilizam estruturas mais robustas.
O IVA e seus efeitos indiretos sobre investimentos
Embora o IVA afete principalmente consumo, logística e indústria, seu efeito sobre investimentos ocorre via:
- Inflação: mudanças na tributação podem impactar preços e margens;
- Receita de empresas listadas, sobretudo varejo, transporte e bens essenciais;
- Reprecificação setorial: segmentos com menor repasse podem ver margens comprimidas;
- Risco fiscal: caso o IVA não amplie arrecadação como previsto, a pressão fiscal aumenta — afetando juros e curva futura.
Ou seja: mesmo que o IVA não atinja diretamente o portfólio, seus efeitos macro alteram a lógica de decisão, especialmente em renda variável e debêntures.
Como orientar o cliente agora — antes da lei mudar
Mesmo antes do texto final, o assessor deve:
1. Incorporar a pauta tributária nas reuniões de planejamento
Isso demonstra preparação, reforça credibilidade e evita decisões reativas no futuro.
2. Trazer cenários hipotéticos, não previsões
Por exemplo:
“Caso a tabela regressiva seja revisada, a atratividade de títulos de curto prazo pode mudar.”
“Se houver tributação anual sobre lucros não distribuídos, parte da liquidez da holding pode diminuir.”
3. Revisar fundos que dependem de estruturas específicas
Principalmente multimercados, FIPs, fundos exclusivos e produtos previdenciários.
4. Testar impacto no perfil de risco
Uma reorganização patrimonial pode alterar a disponibilidade de caixa e o horizonte de investimento.
5. Registrar tudo em relatórios consultivos
Documentação reforça transparência, profissionalismo e conformidade.
Impactos nas carteiras: o que deve entrar no radar nos próximos meses
O assessor deve acompanhar três fenômenos financeiros imediatos:
- Reprecificação da curva de juros conforme o mercado absorve expectativas de mudanças no IR;
- Aumento da volatilidade em setores sensíveis ao IVA, como varejo e alimentos;
- Entrada de fluxo especulativo em classes de ativos vistos como beneficiados por possíveis isenções.
Além disso, clientes de maior patrimônio podem buscar:
- Migração para estruturas internacionais;
- Uso de fundos de previdência;
- Revisões de sucessão patrimonial antecipada.
👉 Veja também: Finanças sustentáveis e títulos verdes: nova exigência do BC.
Cenários possíveis — o que o assessor deve acompanhar
Cenário moderado:
Pequenas revisões no IR de renda fixa, ajustes pontuais em fundos e atualização de regras de holdings. Impacto gerenciável e previsível.
Cenário amplo:
Mudanças estruturais em fundos, revisão profunda do IR regressivo e novas regras de tributação sobre patrimônio.
Cenário restritivo:
Reforma pouco efetiva e retorno de pressões fiscais, aumentando a volatilidade e deixando o sistema de investimentos mais complexo.
O papel estratégico do assessor diante da Reforma Tributária
A Reforma Tributária é mais do que uma lei: é um vetor de transformação que afeta:
- Governança;
- Planejamento financeiro;
- Risco;
- Estratégias de longo prazo.
O assessor que entende isso não espera a lei ser aprovada para agir. Ele:
- Guia,
- Esclarece,
- Antecipar cenários,
- Estrutura decisões.
Com isso, se posiciona como consultor indispensável, capaz de transformar incertezas em oportunidade de diálogo, transparência e confiança.
A volta da Reforma Tributária
A volta da pauta da Reforma Tributária marca um novo capítulo na relação entre governo, mercado financeiro e investidores. Mesmo sem definições finais, já existe impacto claro na percepção de risco, na forma de construir carteiras e na maneira de comunicar estratégias ao cliente.
Para o assessor de investimentos, ignorar essa agenda não é uma opção. Antecipar-se, acompanhar, contextualizar e orientar são hoje diferenciais que fortalecem sua autoridade, geram confiança e protegem o patrimônio do cliente.
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