Em 2025, a política fiscal brasileira permanece como um dos principais fatores de influência sobre os mercados financeiros. Após as eleições locais, o país enfrenta desafios significativos em termos de sustentabilidade fiscal, controle do déficit público e manutenção do arcabouço fiscal. Nesse contexto, a Expert XP trouxe o painel “Política fiscal em debate: desafios e caminhos para o Brasil”, reunindo especialistas de instituições como UBS GWM, Legacy Capital e XP Investimentos para discutir os impactos de políticas fiscais sobre juros, inflação e confiança do mercado.
Para o assessor de investimentos, compreender esses debates não é apenas uma questão de informação — é essencial para traduzir riscos e oportunidades ao cliente, auxiliando na construção de estratégias mais robustas e alinhadas ao cenário macroeconômico. Neste artigo, analisamos os principais tópicos abordados no painel e detalhamos como o assessor pode usar esses insights para orientar seus clientes com clareza, técnica e relevância.
1. Cenário da política fiscal brasileira: pontos centrais em 2025
O painel destacou alguns pontos críticos sobre a situação fiscal do Brasil:
- Novo arcabouço fiscal: A reforma trazida pelo governo visa limitar o crescimento de gastos obrigatórios, criando mecanismos de ajuste automático em caso de desvios de receita ou aumento inesperado de despesas. A efetividade desse arcabouço depende de disciplina política e adesão das esferas estadual e federal.
- Déficit e endividamento: Apesar das tentativas de ajuste, o país ainda enfrenta déficits primários e nominalmente elevados, impactando a percepção de risco dos investidores e o custo da dívida.
- Interação com política monetária: Juros altos e inflação controlada são ferramentas usadas para mitigar efeitos de políticas fiscais expansionistas. O painel discutiu a necessidade de harmonização entre política fiscal e monetária para garantir estabilidade macroeconômica.
- Pressão sobre investimentos públicos e privados: Projetos de infraestrutura, saúde e educação podem sofrer atrasos em cenários de ajuste fiscal rígido, impactando empresas e setores dependentes de contratos governamentais.
O assessor deve traduzir essas variáveis em orientações práticas: entender como decisões fiscais alteram risco-país, volatilidade do câmbio e custo de capital.
2. Risco fiscal: o que monitorar
O risco fiscal refere-se à possibilidade de oscilação ou deterioração da situação das contas públicas, afetando diretamente a economia e os mercados. Durante o painel, os especialistas enfatizaram os principais canais de transmissão:
- Desvios de metas fiscais: Quando receitas ou despesas não seguem o planejado, aumenta a necessidade de financiamento da dívida, elevando juros futuros e criando volatilidade na renda fixa e variável.
- Endividamento crescente: Dívida pública elevada pressiona agências de rating e investidores estrangeiros, podendo gerar saída de capital e impacto sobre o câmbio.
- Prêmio de risco e percepção internacional: A confiança de investidores internacionais é sensível a sinais de desequilíbrio fiscal. Um cenário de baixa previsibilidade aumenta spreads de crédito e reduz liquidez.
- Efeitos sobre juros e inflação: O risco fiscal pode influenciar diretamente a curva de juros, alterando expectativas de inflação e custo de crédito. Títulos de longo prazo podem sofrer maior volatilidade, exigindo atenção do assessor.
Dica prática para o assessor: monitorar indicadores de risco fiscal não apenas no Brasil, mas também em contextos globais, como decisões de bancos centrais e percepção de rating soberano, que podem amplificar impactos locais.
3. Indicadores estratégicos que o assessor deve acompanhar
Para posicionar o cliente de maneira eficiente, é fundamental monitorar indicadores-chave:
- Déficit primário e projetado: Diferença entre receitas e despesas excluindo juros da dívida. Permite avaliar a capacidade do governo em cumprir metas fiscais.
- Dívida líquida/PIB: Indica a sustentabilidade da dívida; valores elevados podem gerar pressão sobre juros e crédito.
- Mudanças legislativas no arcabouço fiscal: Alterações em tetos de gastos ou mecanismos de ajuste automático podem gerar efeitos imediatos no mercado.
- Avaliações de agências de rating: Sinalizam risco percebido por investidores e podem impactar o custo de captação do Tesouro.
- Expectativas de inflação e juros futuros: Derivadas de decisões fiscais e monetárias, são fundamentais para definir alocação em renda fixa e projeções de retorno.
O assessor deve traduzir esses indicadores em recomendações claras, usando comparações históricas e simulações de impacto para diferentes cenários.
4. Impactos da política fiscal na alocação de ativos
Decisões fiscais não afetam apenas o país, mas modulam toda a estrutura de risco das carteiras:
- Renda fixa: Em períodos de volatilidade fiscal, títulos pós-fixados (Tesouro Selic, CRIs/CRAs) tendem a oferecer maior segurança. Títulos prefixados podem ser mais voláteis diante de expectativas de aumento de juros.
- Ações: Setores menos sensíveis a políticas fiscais, como exportadores com receita em dólar ou empresas com caixa robusto, ganham relevância. Setores dependentes de crédito público ou estímulos fiscais podem sofrer mais.
- Fundos estruturados e híbridos: Fundos multimercado com estratégias de proteção cambial ou arbitragem podem equilibrar risco-retorno.
- Diversificação geográfica: Considerar exposição a mercados internacionais, ETFs e BDRs pode mitigar efeitos de choques fiscais locais.
O assessor precisa ter uma visão integrada, considerando correlação entre ativos, liquidez e perfil do cliente.
5. Comunicação eficaz com o cliente sobre a política fiscal
Um dos destaques do painel foi a importância de traduzir informações técnicas em recomendações práticas:
- Didática e clareza: Evitar termos excessivamente técnicos e explicar o impacto direto de decisões fiscais: “O risco fiscal elevado pode gerar volatilidade que afeta juros, bolsa e câmbio.”
- Simulações de cenários: Demonstrar o impacto em diferentes horizontes — curto, médio e longo prazo. Ex.: variações do CDI ou Tesouro prefixado em cenários de desvio fiscal.
- Reuniões periódicas: Mantêm o cliente informado sobre alterações políticas e ajustes estratégicos necessários.
- Confiança e transparência: Reconhecer incertezas e apresentar alternativas de mitigação fortalece a relação com o cliente.
- Uso de materiais de apoio: Relatórios gráficos, dashboards e comparações históricas ajudam o cliente a visualizar o impacto das decisões fiscais.
6. Estratégias para o assessor diante de riscos fiscais
- Monitoramento constante: Acompanhar boletins do Tesouro Nacional, BC, agências de rating e relatórios de bancos.
- Gestão de riscos adaptativa: Ajustar duration de títulos de renda fixa, revisar exposição a setores sensíveis e propor alocação defensiva em ações.
- Educação contínua: Explicar conceitos como arcabouço fiscal, teto de gastos e déficit primário, tornando o cliente mais consciente e confortável diante da volatilidade.
- Planejamento de liquidez: Garantir que a carteira do cliente possa absorver choques fiscais sem necessidade de venda forçada.
- Adoção de soluções alternativas: Considerar derivativos, fundos de crédito estruturado ou proteção cambial quando adequado.
A política fiscal é um tema central para o assessor de investimentos
O painel da Expert XP evidenciou que política fiscal é um tema central para o assessor de investimentos em 2025. Não se trata apenas de seguir notícias econômicas: é sobre traduzir complexidade em estratégias, riscos em oportunidades e indicadores em decisões práticas.
Dominar o assunto permite que o assessor ofereça recomendações mais sólidas e alinhadas ao cenário macroeconômico, fortalecendo sua autoridade e a confiança do cliente. Em um ambiente de incerteza, o assessor funciona como radar e bússola, conectando o mundo macroeconômico às decisões individuais dos investidores.