Em um mundo cada vez mais conectado, o cenário econômico internacional exerce influência direta sobre os mercados locais. Para o assessor de investimentos, entender essas conexões é fundamental para orientar clientes de forma estratégica, coerente e alinhada às oportunidades e riscos que se desenham no horizonte. Em 2025, o ambiente econômico global é marcado por realinhamentos relevantes: a recuperação econômica da China após anos de retração, o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos e os efeitos persistentes de conflitos geopolíticos como a guerra na Ucrânia. Esses fatores, entre outros, impõem desafios e também abrem portas para a atuação proativa do assessor.
1. Alta dos juros nos EUA: risco ou oportunidade?
Desde 2022, o Federal Reserve (Fed) adota uma política monetária restritiva para combater a inflação elevada nos Estados Unidos. Em 2025, embora o ritmo de alta tenha desacelerado, a taxa básica segue em níveis historicamente elevados. Os títulos do Tesouro americano — os Treasuries — passaram a oferecer retornos mais atrativos, atraindo investidores globais e gerando um fluxo significativo de capitais para os EUA.
Essa dinâmica tem três efeitos diretos sobre o Brasil:
1.1. Pressão sobre o câmbio
A atratividade dos ativos americanos provoca a saída de dólares de países emergentes como o Brasil. Essa fuga de capitais desvaloriza o real, o que tende a elevar os preços de produtos importados e pressionar a inflação.
1.2. Enc encarecimento do crédito e do financiamento externo
Com o dólar mais forte e o custo do capital externo em alta, empresas brasileiras que dependem de financiamentos internacionais enfrentam maior dificuldade em captar recursos. Isso afeta desde grandes companhias até startups com operações globais.
1.3. Risco sistêmico para mercados emergentes
Historicamente, ciclos de alta de juros nos EUA precedem volatilidade nos mercados emergentes. O assessor precisa estar atento a essas ondas para proteger a carteira do cliente.
O que o assessor pode fazer:
- Identificar oportunidades em ativos atrelados ao dólar (como exportadoras e fundos cambiais);
- Diversificar com ativos americanos via BDRs e ETFs, aproveitando o prêmio de risco global;
- Avaliar o impacto da alta dos Treasuries na renda fixa local, ajustando prazos e duração.
2. China em recuperação moderada: impacto seletivo
Após adotar uma política rígida de controle da pandemia, a China passou por desaceleração significativa entre 2020 e 2023. Em 2024 e 2025, observa-se uma recuperação moderada da atividade econômica chinesa, impulsionada por estímulos ao setor imobiliário, à indústria e ao consumo interno.
Para o Brasil, essa retomada tem repercussões importantes, especialmente por conta do peso das exportações de commodities.
2.1. Commodities metálicas em foco
Mineradoras brasileiras que exportam ferro, níquel e outros insumos industriais sentem diretamente a retomada da demanda chinesa. A oscilação dos preços internacionais, portanto, impacta o desempenho de ações ligadas a esse setor.
2.2. Agronegócio e demanda externa
A China é um dos principais destinos das exportações brasileiras de soja, milho e carne bovina. Uma economia chinesa aquecida tende a favorecer o agronegócio nacional, influenciando positivamente empresas listadas em bolsa e produtores independentes.
2.3. Cautela com o setor imobiliário chinês
Apesar do estímulo governamental, o setor imobiliário da China ainda apresenta fragilidades. Isso limita a velocidade da recuperação e pode gerar revisões nos volumes importados de commodities, exigindo atenção redobrada.
Como o assessor pode agir:
- Monitorar os principais índices de atividade econômica da China e sua correlação com os setores brasileiros;
- Reavaliar a exposição a empresas de commodities conforme o movimento do mercado asiático;
- Apresentar aos clientes os riscos de concentração setorial, incentivando alocação equilibrada.
3. Geopolítica e energia: volatilidade em cadeia
Os conflitos geopolíticos em curso — com destaque para a guerra na Ucrânia e as tensões no Oriente Médio — mantêm os preços do petróleo e do gás natural instáveis. Além disso, questões como segurança alimentar, transição energética e diplomacia climática ampliam a complexidade do cenário global.
3.1. Petróleo e inflação
O Brasil, embora produtor de petróleo, ainda é impactado por oscilações nos preços internacionais. A alta do barril pressiona os custos de transporte, energia e produção, afetando os índices de inflação e, por consequência, a política monetária nacional.
3.2. Custos de produção e rentabilidade empresarial
Empresas brasileiras com cadeia produtiva dependente de combustíveis fósseis ou insumos importados sofrem diretamente com o aumento dos preços internacionais. Isso impacta margens, competitividade e, em alguns casos, projeções de lucros.
3.3. Oportunidades em energia limpa
Por outro lado, a volatilidade dos combustíveis fósseis estimula o interesse por fontes alternativas e sustentáveis. O assessor atento pode identificar boas oportunidades em empresas de energia renovável e fundos temáticos.
Como o assessor deve agir:
- Incluir discussões sobre energia e geopolítica nas reuniões de alinhamento estratégico com os clientes;
- Estudar o impacto setorial das flutuações energéticas nas carteiras sob gestão;
- Sugerir proteção inflacionária e ativos resilientes em períodos de crise global.
4. Papel do assessor: tradutor da complexidade global
O ambiente econômico global é dinâmico, interconectado e repleto de variáveis. Para o investidor comum, acompanhar essas transformações pode ser um desafio. É nesse contexto que o assessor de investimentos ganha relevância como:
- Curador de informação confiável: filtrando dados, notícias e tendências que realmente impactam a carteira do cliente.
- Tradutor da complexidade: explicando, de forma acessível, como o que acontece em Washington, Pequim ou Bruxelas pode influenciar a decisão de manter um título prefixado ou migrar para um fundo cambial.
- Arquitetos de proteção e oportunidade: ajustando as alocações de maneira proativa, considerando a conjuntura global e o perfil do investidor.
O assessor não é apenas um executor de ordens — é um estrategista que antecipa movimentos, comunica com clareza e entrega valor em forma de decisões bem fundamentadas.
O cenário internacional, em 2025, exige atenção redobrada do profissional de investimentos. A alta dos juros nos EUA, a recuperação ainda tímida da China e a instabilidade geopolítica criam um ambiente complexo, mas também repleto de possibilidades para quem sabe interpretar os sinais e agir com precisão.
Mais do que nunca, o assessor precisa dominar a leitura dos acontecimentos globais para transformá-los em recomendações assertivas. O mercado é global — e os reflexos dessas dinâmicas chegam rapidamente às mesas dos investidores brasileiros. Nesse novo contexto, o papel do assessor é ser radar, bússola e ponte entre o mundo e a carteira do cliente.