Março chegou ao fim. Já faz meses. As campanhas em tons de verde desapareceram das redes sociais, as hashtags diminuíram e o burburinho sobre o “Dia do Assessor de Investimentos” parece ter dado uma pausa. Mas, como toda boa lenda urbana, a história continua circulando: afinal, existe ou não existe um dia oficial do assessor de investimentos?
A verdade é que essa data comemorativa, amplamente divulgada em 14 de março por alguns escritórios e profissionais do setor, nunca foi oficializada. E embora o mês de março tenha se tornado um marco simbólico — impulsionado pela campanha “Março Verde do Assessor de Investimentos”, promovida pela Associação Brasileira dos Assessores de Investimentos (ABAI) —, o reconhecimento oficial, aquele carimbado em Diário Oficial, ainda não aconteceu.
A origem da “lenda”
Tudo começou com boas intenções. Em 2022, um projeto de lei foi proposto pelo então deputado federal Felipe Rigoni, sugerindo o dia 30 de março como o Dia do Assessor de Investimentos. A escolha da data não foi aleatória: foi nesse dia que a Lei nº 14.317/2022 entrou em vigor, reduzindo a taxa de fiscalização da CVM para assessores de investimentos e, mais simbolicamente, substituindo a antiga nomenclatura “agente autônomo de investimentos” para o termo que hoje conhecemos — assessor de investimentos.
Mas como em muitos casos na política brasileira, o projeto esbarrou em um obstáculo clássico: a não reeleição do parlamentar. Com sua saída, o projeto perdeu tração e foi retirado da pauta, deixando a data sem qualquer oficialização.
Enquanto isso, os assessores de investimentos seguiram sua jornada de crescimento, conquistando cada vez mais espaço no mercado financeiro e transformando a forma como o brasileiro investe.
O que foi o Março Verde?
Diante desse vácuo institucional, a ABAI tomou a dianteira e lançou a campanha “Março Verde do Assessor de Investimentos”. A proposta era simples, mas poderosa: transformar o mês de março em um momento de valorização, reconhecimento e conscientização sobre o papel vital desses profissionais.
Durante todo o mês, a associação promoveu conteúdos educativos, vídeos, depoimentos e entrevistas com personalidades do mercado — tudo com o objetivo de dar mais visibilidade ao assessor de investimentos e ao seu impacto direto na vida financeira dos brasileiros.
O foco era claro: mostrar que o assessor de investimentos vai muito além de um vendedor de produtos financeiros — ele é um educador, um guia, um elo entre o mercado e o investidor comum.
Diego Ramiro, presidente da ABAI, destacou em diversas ocasiões que o trabalho do assessor vai muito além da sugestão de ativos ou da montagem de carteiras: ele é, muitas vezes, o primeiro contato que o investidor comum tem com o mercado financeiro. É esse profissional que traduz o “economês”, que segura a mão nos momentos de volatilidade e que orienta com responsabilidade, olhando para os objetivos de cada cliente.
Por que ainda não temos um “dia oficial”?
A falta de um dia oficial não é apenas uma questão simbólica — é também um reflexo da juventude e da transformação da profissão. O assessor de investimentos, como o conhecemos hoje, é resultado de uma longa evolução que passou por mudanças regulatórias, amadurecimento do mercado e, mais recentemente, da explosão da educação financeira nas redes sociais.
Nos últimos 10 anos, vimos o número de assessores de investimentos crescer exponencialmente, acompanhando o avanço da desbancarização, da digitalização e da democratização do acesso ao mercado de capitais. Ainda assim, o setor enfrenta desafios importantes: o reconhecimento legal da profissão, a profissionalização contínua, a transparência nas relações com clientes e, claro, a construção de uma imagem pública sólida e confiável.
A ausência de uma data comemorativa oficial talvez simbolize essa fase de transição — uma categoria em consolidação, que ainda busca seu lugar de protagonismo no cenário econômico brasileiro.
A ABAI, que completa uma década de existência, tem sido um pilar fundamental nesse processo. Além de lutar por melhorias regulatórias, ela também atua na formação técnica e ética dos profissionais da área. Mas os desafios continuam: o setor ainda sofre com estigmas, falta de regulamentação específica e uma compreensão limitada, por parte do público, sobre o verdadeiro papel do assessor.
Mais do que uma data, uma causa
O Março Verde acabou — mas o que ele representa está apenas começando. Cada vez mais, o mercado reconhece que o assessor de investimentos é uma peça-chave para o futuro financeiro do país. Ele é o braço direito do investidor, o facilitador do acesso ao mercado e o educador que traduz o complexo universo dos investimentos para a realidade de cada cliente.
Talvez ainda não tenhamos um “Dia do Assessor” no calendário oficial. Mas temos algo mais importante: um movimento, uma causa, uma missão. E isso, definitivamente, não se encerra em março.
Se março passou, o espírito do “Março Verde” precisa seguir. Porque a valorização do assessor de investimentos não deve se limitar a campanhas pontuais ou datas específicas. Esse reconhecimento precisa ser permanente, vindo de dentro do mercado, das instituições, dos clientes e, sobretudo, da própria classe.